UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por Temas: O ROMANCE Avalovara é estruturado em oito temas, indicados pelas letras R, S, A, O, T, P, E, N, cuja origem é o palíndromo SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS. Cada uma das letras é acompanhada de um título. A disposição dos oito títulos obedece à ordem da inscrição das letras no quadrado, conforme a incidência da espiral que lhe é superposta, gerando uma estrutura não seqüencial. No agrupamento por temas, desconstruímos o entrelaçamento dos temas e os dispomos em ordem seqüencial, tema por tema, formando oito unidades, cada uma com seu desenvolvimento contínuo. Isso possibilita um tipo de leitura seletiva, já previsto pelo próprio autor. |
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, mutilado e nem sempre compreensível, dentro da madrugada, misturado
com o som das ondas, o cantar esparso dos galos, o vôo interminável dos pássaros noturnos e o cheiro dos lençóis, que recendem a folhas de canela. Move-se a
chama aos movimentos mais vivos de
e a sombra do seu corpo, agitada, faz rangerem as tábuas. As flores do quimono sempre aberto recuperam o viço e
entre a pele de
e o espaço que a envolve é como se houvesse um leve pêlo intocável e transparente, matéria sem nome, luz e carne, uma gradação
misteriosa.
sentada na cama e eu meio estendido, apoiado sobre os travesseiros: o seu perfil recortado contra a chama, os lábios meios abertos e silentes. A
cor e o brilho vívido do castiçal, atenuados, ressoam nos cabelos desfeitos. A princípio, suponho que a lividez do rosto anuncia alguma confissão mais aviltante.
Mas o que se esbate nesse perfil meio inclinado é a opacidade (contra a luz, não poderia ver se empalidece), perpassa na sua carne e ossos, fugitiva, uma
transparência idêntica a das uvas claras, no âmago das quais entrevemos a sombra das sementes, outro rosto, gêmeo, olha-me através das suas têmporas e não
me fala, todos estamos em silêncio, mas do silêncio em que está encerrado é como se dissesse: ouve-me. Apaga-se a visão no instante preciso em que também
o rosto não oculto se volta para mim e ágeis sinais - claros sinais e sombrios sinais - surgem a altura do colo, sinuosos e velozes, somem na fronte ou entre os
seios, enxame exasperado de insetos, negros e brancos, miúdos. Prende-me o pulso (a temperatura dos anéis) e com a mão direita afaga-me o rosto. Curva-se,
pousa a testa sobre a minha e um peito, insinuando-se entre as flores do quimono, esmaga-se, peso tépido e fragrante, contra a minha pele, tornada sensível
como se eu fosse de línguas.
e a língua se contorce quando falo. Ouve
-me? As luzes apagadas no carrossel imóvel e nas barracas, as ondas se desfazem e as nossas vozes confundem-se, solenes e inflamadas, boca contra boca, a
verdade rangendo em nossos dentes, sem artifícios e também sem capciosa ênfase.
, foz e confluência?
? Além do mais, ignoro como e até que ponto, repercutes, recôndita, não sei até que ponto, nas simetrias, nos
ritmos. Tendo a crer, Cecília, que a duplicidade do teu ser coberto de cifras ressurge em
, neste caso um ser tríplice, dual e uno, e também pergunto agora se
não ouço, por vezes, tua voz na sua boca. Jamais diria, entretanto, serdes fragmentos ou simples tentativas inconclusas desta que, ainda não sei como, vos
revive. Sendo, cada uma, absoluta e por assim dizer ilimitada, nenhuma é tudo. Íntegras, não constituem, apesar disto, realidades solitárias: na sua integridade,
unem-se em um todo — soma e súmula de totalidades — não superior ou mais perfeito do que as unidades abrangidas.
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