UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » Representação dos oprimidos [T6]
O leve e ritmado som dos sapatos de Cecília, com saltos de latão, percute no piso do alpendre. Passos rápidos, de quem necessita andar muito e vive com uma certa urgência.
Cecília, com um sorriso, faz os leões subirem nos telhados balançando a cauda.
Ela inclina a cabeça, fita-me um instante e desvia o olhar. Volta a fitar-me rápida (abelhas solitárias, esses olhos, riscando as superfícies.)
"Abel é homem das letras e dos livros. Filósofo. Conhece o outro lado da Terra."
Zumbem leões negros e velozes nos olhos de Cecília. Cecília senta-se no banco de vinhático ao lado de Hermenilda e cruza as pernas delgadas. Visível a ossatura dos joelhos. O silêncio de Cecília é atravessado por leões.
Abel considera os galernos de Cecília e seus contrários. Vê a discórdia entre a branda curva dos ombros e a falta de curvas nos quadris; entre os seios grados (de bicos tensos) e o peito do pé com seus tendões, um pouco largo à altura dos dedos; espanta-o que venha de Cecília o eco de inúmeros ramos delicados, secos, cautamente pisados e que ao mesmo tempo algum sinal no seu rosto sugira determinação; e, mais ainda, que essa figura alada e plena de graças seja sustentada por um impalpável arcabouço de virilidade. Decerto, isto é ainda o início. Sem que nenhum dos dois saiba, ou escute, duas bocas, mágicas, falam entre si. Logo ele a verá de um modo novo, vária e múltipla, habitada na carne por visões ou corpos - e sob reverberações, como aclarada pelo Sol rebatido em mil facas oscilantes.
Procurar na vida o rumo é igual a buscar, num palheiro, a agulha que pode ter caído em outra parte.
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