UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins

Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado. As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.

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Você está em Leitura por rotas » O Escravo Loreius [S5]

A altura do ano 200 a.C. reside em Pompéia, então no auge do esplendor, o comerciante Publius Ubonius. Extremamente curioso, tende a especular sobre o incompreensível, viaja sempre que pode (vende, inclusive, produtos hindus) e hospeda mercadores em sua própria casa, com o único propósito de ouvi-los. Recebe, através do tempo e das distâncias, diluídos, adulterados, talvez ungidos de magia, resíduos da matemática egípcia, da astronomia babilônica e dos ensinamentos pitagóricos.

Um servo, Loreius, sempre perseguido por sonhos enigmáticos, alguns verdadeiros, outros talvez inventados para atrair a curiosidade fácil do amo, afigura-se, a Publius Ubonius, o interlocutor ideal. Não raro, o comerciante esquece a esposa, os filhos e os negócios, para entreter discussões com Loreius.

Acaba, em conseqüência de tantas e cada vez mais exaltadas conversas, por prometer ao servo a liberdade, se este descobrir uma frase significativa e que possa, indiferentemente, ser lida da esquerda para a direita - e ao revés. Não só isto: sotopondo as palavras de que se componha, possa ser lida também na vertical, inicie-se a leitura do ângulo esquerdo superior ou do inferior direito. Em qualquer sentido, afinal, que se empreender a leitura da frase, deverá esta permanecer idêntica a si mesma. Quer Publius Ubonius, incapaz, não obstante suas perquirições, de concentrar-se no problema, representar a mobilidade do mundo e a imutabilidade do divino. A imutabilidade do divino encontraria sua correspondência na imutabilidade da frase, com o seu princípio refletido no seu fim; enquanto a mobilidade do mundo teria sua réplica nas variadas direções seguidas para a leitura da mesma expressão e também na possibilidade de criar, com as letras constantes dessa frase imaginada, que Ubonius não conhece mas deve existir, outras palavras.

Os sonhos de Loreius multiplicam-se; suas vigílias são desesperadas. Antes de tudo, decide a extensão da sentença, que deverá ter cinco palavras. Ultrapassar este limite, parece-lhe uma ostentação; uma fraqueza contentar-se com menos. Além do mais, o número abriga significados cabalísticos, para ele importantes, havendo, dentre outras, a ilação entre o cinco e o pentágono estrelado, emblema universal da vida. Sendo a frase composta de cinco termos, cada um destes, forçosamente, teria cinco letras, de modo a possibilitarem, agrupados uns sobre os outros (se lidos no sentido horizontal) ou lado a lado (se no vertical) as permutas exigidas pela obstinação de Ubonius. Preparam os dois homens, como se verá, e sem o saberem, o plano deste romance onde ressurgem e do qual são colaboradores. Contempla-os, com gratidão, o narrador, por sobre os doi mil anos que a eles o unem.

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