Aí me explicou: um senhor, no Palhão, na fazenda Nhanva, altas beiras do Jequitaí, para o ensino de todas as matérias estava encomendando um professor. Com urgência, era homem de sua situação, garantia boa paga. Assim queria que Mestre Lucas fosse, que deixasse alguém dando escola no lugar dele, no Curralim, por uns tempos; isso, claro, não podia. Eu queria ir?

"O senhor acha que eu posso?" - perguntei; para principiar qualquer tarefa, quase que eu sozinho nunca tive coragem. -"Ei, pode!" - o Mestre Lucas declarou. Já que estava acondicionando numa bruaca os livros todos - geografia, arimética, cartilha e gramática - e borracha, lápis, régua, tinteiro, tudo o que pudesse ter serventia. Aceitei. Um entusiasmo nosso me botava brioso. Melhor que era para logo, para o seguinte: dois camaradas do dito fazendeiro estavam ali no Curralim, esperando decisão, agora me levavam. Dona Dindinha, mulher de Mestre Lucas, no despedir, me abraçou, me deu umas lágrimas de bondade: -"Tem tanta gente ruim neste mundo, meu filho... E você assim tão moço, tão bonito..."Aí, nem cheguei a ver aquela menina Miosótis. A Rosa'uarda, vi, de longes olhares.

Os dois camaradas, em tanto percebi, eram capangas. Mas sujeitos de seu trato, sem altos-e-baixos nem as maiores asperezas, me deram toda consideração. Viajamos juntos quatro dias, quase trinta léguas, bom tempo beirando o Riachão e enxergando à mão esquerda os vultos da Serra-do-Cabral. Meus companheiros quase que não me informavam, de nada ou nada. Tinham outras ordens. Mas, mesmo antes da gente entrar em terras do Palhão, fui vendo coisas calculosas, dei meio para duvidar. Patrulhas de cavaleiros em armas; toco de conversa de vigiação; e uma tropa de burros cargueiros, mas no meio dos tocadores vinham três soldados. Mais perto, em maiores me vi. Chegar lá declamava surpresa. A Nhanva enxameava de gente homem - pralaprá de feira em praça. E era vistosa fazenda assobradada, com grandes currais e um terreirão. Vi logo o dono.

Ele era imediatamente estúrdio, vestido de brim azul e calçando botas amareladas. Era nervoso, magro, um pouco mais para baixo do que o tamanho mediano, e com braços que pareciam demais de compridos, de tanto que podiam gesticular. Fui indo, ele veio vindo, o grande revólver na cintura; um lenço no pescoço dele esvoaçava. E aquele cabelo bom, despenteado alto, topete arrepiadinho. Apressei o passo, e ele esbarrou, com as mãos nas cadeiras.