Então, Diadorim o resto me descreveu. Pra por lá do Sussuarão, já em tantos terrenos da Bahia, um dos dois Judas possuía sua maior fazenda, com os muitos gados, lavouras, e lá morava sua família dele legítima de raça - mulher e filhos. A gente suprisse de varar o Liso em boas farsas, se chegava lá sem ser esperados, arrastava aquele pessoal por dura surpresa - acabou-se com aquilo! Mesmo quem havia de deduzir que o Liso do Sussuarão prestasse para nele caminho se impor? Ah, eles prosperavam em sua fazenda feito num quartel de bronze -com que por outros cantos não se podia remeter, pois de arredor decerto tinham vigias, reforço de munição e récua de camaradas, pelos pontos de passagem dificultosa, que eles governavam, em cada grota e cada ipueira. Truco que, de repente, do lado mais impossível, a gente fosse surgir de sobrevento, soflagrar aqueles desprevenidos... Eu escutei, e perfiz até um arrepio. Mas Diadorim, de vez mais sério, temperou: -"Essa velha Ana Duzuza é que inferna e não se serve... Das perguntas que Medeiro Vaz fez, ela tirou por tino atenção dele, e não devia de ter falado as pausas... Essa carece de morrer, para não ser leleira..."

Ouvi mal ouvi. Me vim d'águas frias. Diadorim era assim: matar, se matava - era para ser um preparo. O judas algum? - na faca! Tinha de ser nosso costume. Eu não sabia? Não sou homem de meio-dia com orvalhos, não tenho a fraca natureza. Mas me venceu pena daquela Ana Duzuza, ela com os olhos para fora -a gente podia pegar nos dedos. Coisa que me contou tantas lorotas. Trem, caco de velha, boca que se fechava aboborosa, de sem dentes. Raspava a rapadura com a quicé, ia ajuntando na palma da mão o farelo peguento preto; ou, se não, segurava o naco, rechupando, lambendo. A gente engrossava nojo, salivava. Por que é, então, que ela merecia tanto dó? Eu não tive solércia de contradizer. As vontades de minha pessoa estavam entregues a Diadorim. A razão dele era do estilo acinte. Só previ medo foi de que ele falasse para eu mesmo ir voltar lá, por minhas próprias acabar a Ana Duzuza. Eu não sojigava tudo por sentir. Fazia tempo que eu não olhava Diadorim nos olhos.

Mas, de seguinte, eu pensei: se matarem a velha Duzuza, pelo resguardar o segredo, então é capaz que matem a filha também, Nhorinhá... então é assassinar! Ah, que se puxou de mim uma decisão, e eu abri sete janelas: - "Disso que você disse, desconvenho! Bulir com a vida dessa mulher, para a gente dá atraso..." -eu o quanto falei.