UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » Olavo Hayano [R20]
Abraçados sob a chuva leve - agulhas frias - que o vento agita, observamos as proas harmoniosas dos barcos inclinados na areia. Ela descreve o rosto
secreto e verdadeiro desse indivíduo chamado Olavo Hayano, o rosto só visível na obscuridade. Quando ouve o homem ressonar, apaga a lamparina, escruta-o.
Tem duas vezes a idade do Olavo Hayano diurno e as sobrancelhas eriçadas avançam sob a fronte estreita em direção às têmporas: aí, descem, cercando as
pálpebras pesadas. Quase desertos, ao entardecer, os gramados do Parque Ibirapuera. As águas do lago refletem as nuvens acobreadas e os anéis de
cintilam sobre a direção do carro. "Brutal e grosso o nariz, de narinas largas; o lábio superior extenso; extenso e quadrado o queixo". Entre nós e a poderosa
muralha de edifícios que fecham o horizonte flui o tráfego compacto. Vejo, através de sua descrição, a boca do intruso entre aberta na sombra, os dentes largos, o
riso de quem se sabe invulnerável.
Os orelhas de Hayano, peludas, moles e longas, descem até ao pescoço com verrugas. Parece, mesmo dormindo, dizer a si próprio:
O mais assustador é que, nesse espectro trevoso, falta uma parte do rosto. "Uma parte do rosto?" "Sim, há um vazio".
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