mais medo; ah, aí é que bate o ponto. E por isso eu não tinha licença de não me ser, não tinha os descansos do ar. A minha idéia não fraquejasse. Nem eu pensava em outras noções. Nem eu queria me lembrar de pertencências, e mesmo, de quase tudo quanto fosse diverso, eu já estava perdido provisório de lembrança; e da primeira razão, por qual era, que eu tinha comparecido ali. E, o que era que eu queria? Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era - ficar sendo!
E foi assim que as horas reviraram. - A meia-noite vai correndo... - eu quis falar. O cote que o frio me apertava por baixo. Tossi, até. - "Estou rouco?" "- Pouco..." - eu mesmo sozinho conversei. Ser forte é parar quieto; permanecer. Decidi o tempo - espiando para cima, para esse céu: nem o setestrêlo, nem as três-marias, - já tinham afundado; mas o cruzeiro ainda rebrilhava a dois palmos, até que descendo. A vulto, quase encostada em mim, uma árvore mal vestida; o surro dos ramos. E qualquer coisa que não vinha. Não vendo estranha coisa de se ver.
Ao que não vinha - a lufa de um vendaval grande, com Ele em trono, contravisto, sentado de estadela bem no centro. O que eu agora queria! Ah, acho que o que era meu, mas que o desconhecido era, duvidável. Eu queria ser mais do que eu. Ah, eu queria, eu podia. Carecia. "Deus ou o demo?" - sofri um velho pensar. Mas, como era que eu queria, de que jeito, que? Feito o arfo de meu ar, feito tudo: que eu então havia de achar melhor morrer duma vez, caso que aquilo agora para mim não fosse constituído. E em troca eu cedia às arras, tudo meu, tudo o mais - alma e palma, e desalma... Deus e o Demo! "Acabar com o Hermógenes! Reduzir aquele homem!..." -; e isso figurei mais por precisar de firmar o espírito em formalidade de alguma razão. Do Hermógenes, mesmo, existido, eu mero me lembrava - feito ele fosse para mim uma criancinha moliçosa e mijona, em seus despropósitos, a formiguinha passeando por diante da gente - entre o pé e o pisado. Eu muxoxava. Espremia, pra ali, amassava. Mas, Ele - o Dado, o Danado - sim: para se entestar comigo - eu mais forte do que o Ele; do que o pavor d'Ele - e lamber o chão e aceitar minhas ordens. Somei sensatez. Cobra antes de picar tem ódio algum? Não sobra momento. Cobra desfecha desferido, dá bote, se deu. A já que eu estava ali, eu queria, eu podia, eu ali ficava. Feito Ele. Nós dois, e tornopío do pé-de-vento - o ró-ró girado mundo a fora, no dobar, funil de final, desses redemoi-
UniRitter - Centro Universitário
Ritter dos Reis
Rua Orfanatrófio, 555 - Cep: 90840-440 - Porto Alegre - RS - Brasil
Telefone: +55 (51) 3230.3333
© Copyright 2009-2012 - Veredas do Grande Sertão. All rights reserved.