UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » O trabalho dos operários [T11]
ouço comentários sobre o homem atingido por um caminhão: continua estendido sobre o calçamento, no Cais do Apolo.
Coberto de jornais, ao sol das duas horas, o morto, com a paciência dos mortos, aguarda que a Polícia também chegue. Quando morreu? Entre onze e meio-dia. Por que continua aí? Faltam viaturas na Polícia. Sabe-se quem é? Afasto-me e dirijo-me à Delegacia.
O infeliz continua na rua, cão sob o sol agora menos ardente, ainda à espera de que venha, para removê-lo, um carro da Polícia. Os veículos transitam mais depressa e poucos passageiros notam a aglomeração, que diminuiu. Gastos nas solas os sapatos da vítima. Rostos aparecem nas janelas mais altas do edifício fronteiro, mãos displicentes apontam para baixo. Desaparecem. Começou a ventar e os jornais que cobrem a cara do desconhecido adejam sob pedaços de tijolos.
Nenhum dos servidores que atende aos meus telefonemas se ocupa de cadáveres jogados na rua: todos mandam ligar para outro número. Damião aparece, desorientado, à entrada da sucursal, interpela um empregado e toma a direção do elevador. Antes de falar com ele, já sei quem é o acidentado na rua.
Tudo percebo - a encomendação do corpo, o trabalho dos coveiros, o pó nas lápides, as lamúrias discretas das mulheres -
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