UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins

Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado. As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.

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Lembro-me também de que muitas obras de arte existem, desmembradas, como o políptico de Masaccio realizado em Pisa, onde só chego a ver a figura de S.Paulo, a única que resta na cidade, indo encontrar o Calvário — isolado do conjunto — em Nápoles: santos e fragmentos do friso inferior acham-se em Berlim; em Londres, a Virgem e o Filho, com anjos músicos em torno.

Blusa negra de seda e saia musgo, de linho. Mangas compridas, presas com abotoaduras verdes, imitando trevos, idênticas aos brincos. Claros os calçados e a bolsa de alça longa. Um pulôver cinza à mão. Os cabelos sedosos, a pele repousada, as unhas polidas. Leve pintura, leve odor de loção: fragrância de violetas.

Ao sairmos para o sol põe o chapéu de palha, um chapéu de abas flexíveis ornado com uma fita da mesma cor da saia. Para que o pulôver, quando faz calor e o ar está azul?

Dou a Roos o fular trazido de Veneza: um grifo cercado de borboletas e feito de seres estranhos. Cada uma das patas é um leque de pássaros; as unhas, seus bicos. Os pássaros das patas dianteiras saem do ânus de um símio; e os das patas traseiras das bocas de animais sem corpo. Lobos, cavalos, leoas, aves, pequenos monstros e a cara de um velho semeIhante a Esopo, entrelaçados, rnuitos com a cabeça dentro da boca de outro. A cauda de um lobo é tambérn a do grifo. No extremo da cauda, incrustados num penacho, dois personagens idênticos, mulher e homem. Conversam? Toda essa zoologia como que não cabe no corpo da besta fabulosa e assim e que se vêem no ar as patas traseiras de mais dois animais, as cabeças plantadas como flechas a meia altura da sua espinha: o provido de cauda (entre cão e gazela) cobre o outro (cão com cabeça de iguana). A cauda da gazela-cão (ou cão-gazela-flecha?), felpuda, termina em cabeça, com língua de víbora. O grifo tem chifres à feição de asas ou de barbatanas. Seu bico e olhos são aquilinos, bico e olhos agudos. O original, armênio, remonta ao ciclo das grandes descobertas e talvez lhes seja anterior. Roos, sorrindo, agradece e põe com gestos lentos o lenço no pescoço. Entre a pele e a blusa negra, movem-se as cores da besta e das borboletas.

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