UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » O Enterro de Natividade [R13]
O carro negro, com o ataúde de Natividade, pára no cruzamento, perdido entre automóveis, ônibus e misturadoras de concreto. O barracão para a
guarda de materiais - rezam os manuais de construções - deve ser feito com tábuas ordinárias já usadas e tijolos assentados simplesmente com barro. Finda a
construção, tijolos e madeira, intatos, podem ser utilizados de novo em outra obra. O sol desta manhã de fevereiro cresta as coroas de rosas e as cinerárias
jogadas sobre o ataúde. Dois únicos veículos acompanham o carro fúnebre: uma viatura do Exército e um Chrysler negro, com algum uso, lataria e vidros
espelhando. O motorista, mãos firmes no volante, ignora o tumulto, estilo de ação que repudia e considera ameaçador (não vá proliferar, na desordem, algum
princípio insólito). No seu rosto espesso e impassível, na rigidez da postura, pressente-se uma espécie de susto resguardado por poderes. Como se a arma que
pesa na cintura, no coldre cheirando a cavalo, não lhe trouxesse nenhuma segurança e ele sempre esperasse, sem jamais dignar-se a olhar para trás, uma bala
no cachaço. O calor acelera o fácil apodrecimento de Natividade, no caixão de pinho, sob as flores sem vida.
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