UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » Reflexões sobre narrativas [O19]
O tempo, a vida, os acontecimentos - salas fenestradas. Em todas as paredes, janelas abertas, e as janelas olham para outras salas rodeadas de janelas através das quais vêem-se as janelas de novas e estranhas salas, e tão numerosas são as salas que cada uma é o centro das demais. Neste centro móvel, impreciso, com idades que não são nenhuma idade definida e dois pares de olhos que escrutam como se fossem um só par ou mesmo um olho, neste centro, sondando, através de todas as janelas, as janelas próximas, eu, inserida num jogo de espelhos arbitrários e onde as iterações, por incontáveis, tendem para o esférico, vejo-me, vejo os demais e também vejo a mim mesma no ato de me ver e de ver os que me cercam. Vejo-me, vejo os demais e os variados cenários em que nos movemos. Todos. Todos os cenários. Todos nós. Um par de olhos vê por dentro do outro par: é como se fossem de outra substância, são olhos mais tenros, mais inocentes que os olhos mais velhos. Assim, este mundo de janelas abertas sobre inumeráveis segmentos do fluir das coisas e que, por numerosas, evocam a forma esférica, duplica-se, refratado por meu duplo olhar. Duas dilatáveis esferas de salões rodeados de janelas, uns trespassados nos outros, ressoantes, ressoantes dos meus passos, de vozes perdidas, ressoantes também dos meus silêncios e não circunscritos a esses doze anos, seis meses e dois dias: toda a minha existência aí está - e aquele centro móvel, fugidio, que transita de uma sala a outra, como se fosse o centro de gravidade do tempo, é uma das formas - uma forma concreta - do presente, do inapreensível agora. Eu tentando ler meu nome no bater de um martelo e eu diante de Inês, perplexa, ciente de que os seus modos e palavras têm algo de novo, mas não sabendo em que consiste o novo e quais seus frutos,
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