UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » Hermelinda e Hermenilda [T7]
Tarde de domingo em casa de Hermenilda e Hermelinda, ambas de vestido branco. Na rede do alpendre, repasso o álbum de fotografias e ouço distraído as histórias que me contam. O próprio fato de permanecerem entre as páginas do álbum os rostos, os vestidos, os gestos de princípios do século, agora que os modelos já estão velhos ou mortos e quando, de qualquer modo, nada mais existe, se existiu, daquelas horas cuja substância o universo da câmara escura pretende assimilar, acentua as fronteiras nem sempre compreensíveis, nem sempre perceptíveis entre esses dois espaços: um, ilimitado, contínuo, fugaz; outro, restrito, imutável. A circunstância de que não conheço nenhuma das figuras constantes do álbum (que nexo liga a Cecília estes modelos?), isola ainda mais, os retratos, de injunções alheias à sua realidade específica. Uma galeria autônoma de figuras de quem a substância não está no sangue, nos gestos, nas palmeiras, nas pedras, nos olhares, em nenhum dos impróprios truques com que aspiravam a viver no papel - e sim na luz, na sombra, no claro-escuro. Cantam os pássaros, sem continuidade. Cecília não aparece e nenhum de nós pronuncia o seu nome. Impossível dizer de onde me vem esta certeza de que todos a esperamos.
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