UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
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Você está em Leitura por rotas » Hermelinda e Hermenilda [T15]
No sossego da noite, aparecem-nos os dois. Eles. Cecília e Abel, cobertos de arranhões, pouco menos do que nus, vestidos só com os braços, com as mãos e com os panos rasgados. Trilam os pássaros, espantados com as vozes estranhas que invadem o silêncio onde moramos. Indagam: “Visitas? Visitas? Tiu? Pio?”. Edemas na cara e manchas secas de sangue no que lhes sobra das vestes. Parecem envenenar-se, os dois (dois?), sorvendo o ar corrompido pelo seu próprio amor fugaz e predador. Despeçam-se: salvem-se. Quebrados e moídos. Esplendem, mesmo assim, dentro dos corpos. Não. Outro corpo, um corpo de desejo, arde intacto dentro do corpo de carne e cheio de vergões. Abel me olha, olha-me através do corpo de cecília, olha-me com triunfo (ele, o batido) e nós o vemos atirando-se com asas no centro inviolado de cecília. Cecília me olha, de face. Seu olhar uma chapa — negra, larga e brilhante, folha de pedra, impessoal e densa. Rompe-me os barbantes da alma com esse olhar. Como quem diz: “danem-se. Ajudem-me e danem-se. Estas feridas são a véspera de abel.” Visível, tangível, o sinal de logo que os envolve e cerca-os. Cerca-os? Não é um arco. Quase. Arco rompido: as pontas quase invisíveis não se encontram e podem continuar. Continuam? Cecília, abel, cecília, nele inclusos e presos — o laço. Armadilha. A agulha, imantada, não aponta para qualquer lugar. Abel recusa a ajuda que lhe ofereço (“cuidem de cecília!”) E senta-se no banco, o álbum sobre os joelhos. Apagada a lâmpada do alpendre. Para que, então, o álbum?
Levamos, Hermenilda e Hermelinda, Cecília para o nosso quarto.
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