UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins

Leitura por Temas: O ROMANCE Avalovara é estruturado em oito temas, indicados pelas letras R, S, A, O, T, P, E, N, cuja origem é o palíndromo SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS. Cada uma das letras é acompanhada de um título. A disposição dos oito títulos obedece à ordem da inscrição das letras no quadrado, conforme a incidência da espiral que lhe é superposta, gerando uma estrutura não seqüencial.

No agrupamento por temas, desconstruímos o entrelaçamento dos temas e os dispomos em ordem seqüencial, tema por tema, formando oito unidades, cada uma com seu desenvolvimento contínuo. Isso possibilita um tipo de leitura seletiva, já previsto pelo próprio autor.

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Você está em Leitura por temas » Tema E - Ö e Abel: ante o Paraíso [E3]

O corpo de e o meu, tudo o que temos para este encontro. Nossos corpos e o que ambos trazem. De pé, as suas mãos vibrando entre as minhas como vibra a cidade na hora ainda tumultuosa da tarde, contemplo-a. Desejaria que soubesse e é possível que saiba: não vejo à minha frente um animal de presa. Ela responde, com a fúria e a solidão que ressoam em sua carne, a obscuros vazios que me roem. Percorre-a um rumor? Suas mãos nas minhas, vibrantes (assim vibra um sino percutido, o chão sob um galope de cavalos vindo, vindo, vibra assim). As palmas largas e fortes. Bate-me o sol na cabeça e no canavial, verde e crespa ondulação descendo pelo vale, montando os flancos dos montes, quase branco à luz do sol que cai de chapa no canavial e em mim. Extraviei-me do reduzido grupo e há um extenso silêncio, que abrange as cigarras, os pássaros e o canavial. Vejo entre montes uma chaminé e de longe, de longe, da margem das distâncias, vem o ganido de um carro de bois. Os anjos invisíveis e severos que antecedem a vinda da Cidade, que a precedem, parecem haver expulsado da paisagem todo bicho vivo e qualquer vento. Expressa o rosto de , legíveis, símbolos claros e exatos como as letras que vogam entre os altos edifícios? Segredos numerosos, nele, espreitam-me; e o confronto do meu corpo com o seu atende a um esforço de perfuração ou rompimento, arrastam-me esse rosto e corpo - ventre ancas jarretes, vulva peitos ombros, língua braços coxas - com todos os ímãs e iscas e méis, mas arrasta-me com ainda maior potência o esconso, o que irrevelado se move em sua carne, o ainda escuro e não aqui. Sua beleza estoura nos meus olhos e trespassa-me, cruza-me, atravessa-me, crava-se fundo em mim.

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