UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
|
Leitura por rotas: são incursões no romance, mediadas pela
leitura dos pesquisadores e concretizadas no dispositivo hipertextual criado.
As rotas estruturam e tornam visíveis as articulações que se apresentam diluídas
em fragmentos textuais do romance. Para a determinação das rotas, consideramos
a possibilidade de navegação por rotas lexicais e unidades temáticas.
|
|
Imprimir tudo Voltar
Você está em Leitura por rotas » Formação do romance [E13]
A Cidade, faustosa e já em ruínas (textos de prestígio prometem a volta de legendários reinos submersos), aparece no centro da cisterna, como um peixe que houvesse crescido e envelhecido em segredo no fundo deste cubo, exatamente no lugar onde costumo indagar: "Que procuro?" Persigo uma caça ignorada, anos, caço na cegueira. Posso, se desconheço o objeto da procura, chegar um dia ao seu termo? Compulsiva, insensata e sem qualquer esperança a minha busca. Agora, próxima e contudo imaterial na sua transparência, a resposta se apresenta. Busco uma cidade, esta, com seus templos e suas construções profanas, algumas de um luxo para mim ofensivo, entre obeliscos e arcos, sobre colinas que separa um rio ou braço de mar. Que cidade é, porém, não sei, ela não se nomeia.
Sem objetivo, levanto-me num salto e corro em direção ao chalé. São que olhos, estes que me aparecem com a Cidade e percebem-na? Uma visão inteligente e aguda?
também vejo que os grãos de que é feita a Cidade, móveis como formigas e incontáveis,
e a Cidade boiando no centro do recinto, anacrônica, com suas praças de esmalte, circulares e não maiores que anéis. A sensualidade dos que a edificam manifesta-se em cada aresta de parede.
Cedo são arrombados esses muros sólidos, desabam os torreões, as torres, as ameias, mas também vão-se as construções particulares e os templos, funde-se como sal a estátua do menino a quem o pai ou mestre parece oferecer num gesto largo o mundo, toda a Cidade alui no silêncio, dissolve-se em nada a Cidade
Dissolve-se a visão, sim, não me revela seu Nome, sim, mas a procura de seis ou sete anos afinal se define, sei por fim o que devo buscar e contemplar, sendo indispensável que o intente. Vai, Abel, busca a Cidade: eis a tua incumbência.
As cobras fogem ao calor do meio-dia na espessura do canavial. As sombras, vagarosas, das nuvens, deslocam-se através da paisagem, em direção a mim, cobrem-me e vão-se, arma-se e arma-se o encontro sonhado, vem a Cidade ao encontro do homem que - havendo-a farejado como um insensato por muitos países - admite o insucesso e renuncia à procura. Sua rota, na direção este-oeste, é perpendicular à direção do vento, que leva as nuvens para o sul.
© Copyright 2012 - UMA REDE NO AR :: Os Fios Invisíveis da Opressão em Avalovara, de Osman Lins. All rights reserved.
Centro Universitário Ritter dos Reis - Rua Orfanatrófio, 555 - Cep: 90840-440 - Porto Alegre/RS - Brasil | Telefone: +55 (51) 3230.3333