UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins
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Leitura por alegoria: de uma forma muito geral podemos dizer que alegoria é uma figura de linguagem, um uso retórico da linguagem, como tal utilizada desde Homero, ou a partir dos intérpretes de Homero. Desse ponto de vista, já se percebe a tendência à leitura, pois é o leitor que constrói/desvenda o sentido alegórico. A alegoria tem uma longa tradição de usos, conforme as situações, que levaram os letrados e os teólogos, em grande medida, a lerem sob um texto um outro texto. Segundo nossa perspectiva, Avalovara contém várias alegorias. Para Osman Lins, o próprio romance é uma alegoria: “Eu ambicionava realizar um texto que, sem limitar-se apenas a isto, expressasse a minha paixão pela escrita e pelas narrativas. Um livro que fosse, no primeiro plano, se assim posso dizer, uma alegoria da arte do romance”. (EVANGELHO NA TABA, p. 175) |
Segundo nossa perspectiva, Avalovara contém várias alegorias. Para Osman Lins, o próprio romance é uma alegoria: “Eu ambicionava realizar um texto que, sem limitar-se apenas a isto, expressasse a minha paixão pela escrita e pelas narrativas. Um livro que fosse, no primeiro plano, se assim posso dizer, uma alegoria da arte do romance”. (EVANGELHO NA TABA, p. 175)
Algumas das alegorias que identificamos como O TAPETE, A CISTERNA, O PÁSSARO, O PALÍNDROMO, O RELÓGIO nos indicam a representação, através dessas formas concretas, da complexidade de, pelo menos, duas esferas que envolvem o espírito humano: a religiosidade e a arte (no caso, a literatura e outras artes).
A cisterna representa simbolicamente um espaço de comunicação entre os planos divino e terreno e, também, o conhecimento. Literariamente pode-se relacionar a cisterna ao motivo da descida ao inferno, representando a busca do conhecimento de si e da humanidade. Na Odisséia, de Homero, Ulisses desce ao Hades, com instruções da feiticeira Circe, para saber de seu futuro, como fazer para reingressar em sua terra e reassumir suas funções e também para saber dos fatos acontecidos após a vitória sobre Tróia. É uma representação mítica da cultura grega, raiz da civilização ocidental. Dante, em A divina comédia, transgredindo a forma narrativa da epopéia, representa o percurso ao inferno tomando como personagens dois grandes poetas: o próprio Dante e Virgílio. Em movimentos circulares (espiralados) os dois chegam ao fundo do inferno à face de Lucifer, num percurso de aprendizagem sobre a perspectiva cristã e com um olhar sócio-político de 'ajuste de contas'. Esses mesmos movimentos, em direção contrária, levarão Dante ao Paraíso, conduzido por Beatriz. Na modernidade, a Descida ao Inferno - Prelúdio de José e seus irmãos - de Thomas Mann, tem passagens esclarecedoras que merecem ser transcritas:
É muito fundo o poço do passado. Não deveríamos antes dizer que é sem fundo esse poço? Sim, sem fundo, se (e, talvez, somente neste caso) o passado a que nos referimos é meramente o passado da espécie humana, essa essência enigmática; da qual nossas existências normalmente insatisfeitas e muito anormalmente míseras formam uma parte (...)
É que dali, em época já mui remota, (José nunca tivera cabal certeza de quão remota ela era) um homem pensativo e interiormente inquieto, com sua mullher, a quem ele, provavelmente por ternura, costumava chamar de irmã, partira com outras pessoas de sua família, para fazer como fazia a lua, que era a divindade de Ur, vagueando sem rumo certo, porque achava isto muito adequado à sua situação insatisfeita, dúbia, tormentosa. (MANN, Thomas. José e seus irmãos. Trad. Agenor Soares de Moura. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1947).
A espiral faz circular Avalovara, da cisterna ao tapete, na errância de Abel, conduzido por seus três amores que se unificam em . A procura de Abel, delineada como busca do conhecimento, busca da expressão artística, se faz pela via do amor, no aprendizado de seu ofício e no autoconhecimento, rastreiando as pistas deixadas na memória cultural.
A alegoria da cisterna compreende fragmentos distribuídos entre os temas T e E.
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