UMA REDE NO AR - Os fios invisíveis da opressão em Avalovara, de Osman Lins

Leitura por alegoria: de uma forma muito geral podemos dizer que alegoria é uma figura de linguagem, um uso retórico da linguagem, como tal utilizada desde Homero, ou a partir dos intérpretes de Homero. Desse ponto de vista, já se percebe a tendência à leitura, pois é o leitor que constrói/desvenda o sentido alegórico. A alegoria tem uma longa tradição de usos, conforme as situações, que levaram os letrados e os teólogos, em grande medida, a lerem sob um texto um outro texto.

Segundo nossa perspectiva, Avalovara contém várias alegorias. Para Osman Lins, o próprio romance é uma alegoria: “Eu ambicionava realizar um texto que, sem limitar-se apenas a isto, expressasse a minha paixão pela escrita e pelas narrativas. Um livro que fosse, no primeiro plano, se assim posso dizer, uma alegoria da arte do romance”. (EVANGELHO NA TABA, p. 175)

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Nos temas R, O e E identificamos fragmentos que dizem respeito às reflexões de Abel e sobre a opressão e a criação. De fato, não se trata de reflexões  desenvolvidas com argumentos e dados, mas apoiadas em alegorias como o animal ou o seixo (R20), o seixo ou gato podre (R19), uma agulha (R17) a carcaça podre (R14) cão com barbatanas (O9) (In: Reflexões de Abel e ).

Esses indesejáveis animais, do campo semântico da opressão, habitam o corpo de , também ela uma personagem  alegórica, como veremos no item o corpo de :

Transmudado o cão com barbatanas, o cão vestido de plumas. Tem orelhas humanas, dissolve-se o focinho e revela-se um rosto de criança, porém de olhos fechados. As barbatanas recolhidas ao seu corpo como se fossem costelas adejantes, como se fossem línguas das costelas. Arredondam-se as patas dianteiras, estendem-se as unhas, em garras, em dedos, erguem-se em direção aos ombros, sua postura assemelha-se à de um crucificado (In: Reflexões de Abel e O9)

Abel, como escritor, reage utilizando alegorias e, raras vezes, em curtas frase que denunciam explicitamente os militares.

- Abro as mãos ante os olhos no âmago da noite e não as vejo. Crio um casulo de trevas. Questiono o meu ofício de escrever em face da opressão. Fico ouvindo a resposta que se forma no ponto mais protegido e inviolado do meu corpo. A máquina da opressão alcança-me através das paredes e da carne. Todos os seus guardas e artífices dormem, todos — rodeados de arames, casamatas e armas, e ela, a máquina, opera. Máquina ou cão? Não há modo algum de escapar ao seu hálito (IN: Reflexões de Abel e R15)

Assim, as fortificações, expressão da soberba e da brutalidade militares, parecem nascer de mãos estrangeiras (IN: Reflexões de Abel e E13).

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